Resgate de um trabalho realizado junto à UEFS – Universidade Estadual de Feira de Santana e o Grupo Jatobá.
SÍTIOS RUPESTRES DE OLIVEIRA DOS BREJINHOS
O município de O. dos Brejinhos vive um dos momentos mais importantes de sua história. Numa parceria do Grupo Jatobá e a Universidade Federal de Feira de Santana, está sendo desenvolvido o projeto Desenhadores Rupestres da Chapada, que visa mapear, identificar e catalogar os sítios arqueológicos existentes no município. O trabalho está bastante avançado e os primeiros resultados já começam a aparecer.
Nos dias 05, 06 e 07 de fevereiro, a cidade recebeu a visita da equipe da UEFS que veio apresentar para a comunidade os resultados da primeira etapa da pesquisa realizada.
05/02 – Participação na Semana Pedagógica do Colégio Tiradentes, quando o trabalho foi apresentado para cerca de 40 professores.
06/02 – Realização de uma exposição de painéis, cartazes e o desenvolvimento de trabalhos manuais com os presentes na Praça Dr. Getúlio Vargas. À noite, o projeto foi apresentado para a comunidade na Câmara de Vereadores.
07/02 – Visitas foram feitas a alguns sítios localizados no interior do município.
Tudo isso e muito mais você poderá observar no nosso PAINEL DE FOTOS.
Veja também um trecho de dos textos trabalhados pela equipe juntamente com os professores do Colégio Estadual Tiradentes e Grupo Escolar Rômulo Galvão.
No município de Oliveira dos Brejinhos, localizado na serra geral da Chapada Diamantina, a 589,01 km de Salvador, no estado da Bahia, existem cerca de 34 sítios de artes rupestres. Sua existência foi indicada por alguns moradores da cidade representados pela ONG Grupo Jatobá, que contatou o Núcleo de Desenho e Artes da Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS – para a realização de estudos e pesquisas. O projeto “Desenhadores Rupestres da Chapada: Sítios Arqueológicos de Oliveira dos Brejinhos” é fruto desta solicitação e tem por objetivo localizar, mapear e descrever todos os ´sítios indicados. O trabalho foi dividido em duas etapas de 17 sítios cada. Encontramo-nos no fim da primeira delas, e iniciando alguns dos estudos complementares frente aos questionamentos que surgiram durante os estudos, portanto parte dos resultados obtidos.
Este trabalho tem seu primeiro resultado em Cunha (2002), que apresenta uma nota prévia relacionando os três primeiros sítios visitados por uma equipe da UEFS na região para conhecimento, relacionando-os com aqueles da tradição São Francisco ao norte de Minas.
A coleta destas informações indica a distribuição dos sítios e suas características o município ampliando o conhecimento sobre os mesmos no estado da Bahia; traz informações sobre os ambientes pretéritos nas quais viviam os povos pré-históricos; e, permite a ampliação do entendimento sobre o seu processo migratório. Neste sentido, a arte rupestre surge como importante meio para a compreensão deste patrimônio histórico brasileiro.
A comunidade e o poder público sabem da existência dos sítios, mas não existe no município um processo de preservação, dado que parte da população desconhece sua importância, e que boa parte dos sítios sequer tinha cadastro junto ao Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), órgão responsável pela guarda dos mesmos.
Aqui, apresentaremos a localização e descrição dos sítios até o momento levantados, suas características básicas que definem um padrão inicial para região e os principais questionamentos sobre o observado que hoje abrem novas frentes de estudo na região.
No estágio atual dessa pesquisa pode-se definir os controles ambientais para os sítios rupestres que são: rede hídrica, serras com blocos soltos e substrato preferencialmente quartzítico, bem como os possíveis controles para os sítios paleontológicos: depressões com coberturas argilosas ou argilo-arenosas, úmidas ou beira de lagoas, o que é comum em Oliveira dos Brejinhos a ponto de nomear o município e considerar duas hipóteses para trilhas pré-históricas:
- Trilhas paralelas diferentes e não comunicantes indicariam mais de um grupo?
- Trilhas entrecruzadas: áreas de caça ao centro, no Vale do Paramirim, trilhas para deslocamento com zonas de repouso, perto das serras.
A importância desse estudo é a possibilidade de identificar, através da utilização de recursos de geotecnologia, vestígios da presença humana pré-histórica, para assim servir como orientação de pesquisa, na procura de novos sítios rupestres e paleontológicos na Região estudada.
Descrição sumária dos sítios estudados – Veja a TABELA 1
Existem pinturas a tinta, grafite e inscrições incisas com até quatro cores, a saber: vermelho, amarelo, preto e laranja ou marrom. Aparecem todos os tipos temáticos, em painéis geralmente mistos, a saber: geométricos, zoomórficos, pés e mãos, antropomórficas, figuras de folhas ou plantas. É bastante incomum armas e não existem figuras de armas isoladas.
SÍTIO PALEONTOLÓGICO
Na região, por conta de uma escavação para criação de um tanque para dessedentação de animais, foi descoberto um sítio paleontológico com ossos de mamífero da megafauna tercio-quaternária, provavelmente um Eremoterium Lundii, próximo à cidade de Oliveira dos Brejinhos, no vale do Rio Paramirim, Fazenda Morrinhos.
O sítio paleontológico situa-se em região deprimida, argilosa e úmida.
DISCUSSÃO
Os sítios estudados ocorrem em dois grupos, concentrados à esquerda e à direita do Rio Paramirim. A análise dos dados para o conjunto mostrou que: a maioria dos sítios se encontra em blocos soltos; a técnica de execução dominante é a pintura a tinta, bicromática, ocorrendo raramente execução a grafite e gravações incisas, o vermelho é a cor que ocorre em todos os sítios. A temática é mista, geométrica e naturalista. Até o momento, apenas a temática geométrica aparece isolada, o que a torna dominante em relação à naturalista.
A temática naturalista divide-se em figuras zoomórficas, antropomórficas, folhas e plantas, pés, mãos e armas. As armas aparecem nas mãos ou ligadas a figuras antropomórficas, não havendo – nos 17 sítios estudados – desenhos de armas isoladas identificados até o momento.
A análise comparativa entre os dois grupos aponta apenas diferenças percentuais, ou seja, as dominâncias são as mesmas, mudando o percentual de cada item no grupo, o que poder ser efeito do número de sítios e painéis visitados.
A origem dos pigmentos é questão a ser estudada, assim como o alinhamento dos sítios rupestres, e a ocorrência de sítios paleontológicos.
Na região, são encontrados na flora e fauna pigmentos e veículos que apresentam mesma tonalidade daqueles observados na rocha, desenhos de uma palma (cactácea) em vermelho, nesta palma fixam-se casulos de insetos produtores de pigmentos vermelhos similares. Não existem lateritas, ou minérios de ferro que possam ser a origem desta cor; tais observações sugerem a hipótese orgânica para os pigmentos: o pigmento vermelho teria sua origem em casulos de insetos que se fixam numa palma, o pigmento amarelo na raiz de açafrão, o laranja e o amarelo escuro no buriti. O pigmento marrom pode ter sido obtido da mistura de outros e o preto do carvão da canela de ema ou da tiborna, nomes populares para duas espécies da flora local. Ocorrem muitas diferenças nas tonalidades das cores, que podem ter sido causadas pelo intemperismo ou pela própria composição das misturas dos pigmentos utilizados.
O alinhamento dos sítios sugere a possibilidade de caminhos constantes, trilhas pré-históricas. A presença do sítio paleontológico levanta a hipótese de haver outros similares e esta ser uma área de caça. Todos estes aspectos remetem a novas investigações, algumas já iniciadas, na segunda etapa deste levantamento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As dominâncias reveladas na análise dos dados sugerem padrões de ocorrência que podem auxiliar na identificação de sítios ainda desconhecidos, mesmo pela população local.
As informações obtidas no levantamento realizado até o momento, além de apresentarem sítios desconhecidos e uma região especialmente densa em sítios rupestres, sugerem algumas questões que marcaram o final da etapa aqui apresentada, abrindo novos estudos, adiante apresentados em forma de questões.
- A inexistência de pigmentos minerais na região e a forte sugestão de pigmentos orgânicos, incomuns na literatura abre o questionamento: qual a origem dos pigmentos utilizados nestes sítios?
- Os padrões de ocorrência, associados ao alinhamento dos sítios em dois grandes grupos , pode ser uma chave para busca de novos sítios? Por que os sítios encontram alinhados? Seria a indicação de trilhas pré-históricas?
- Existem outros sítios paleontológicos na região? A localização de um sítio paleontológico pode indicar ser esta uma área de caça?
Seguem-se os agradecimentos e referências bibliográficas.
Este texto é um fragmento do trabalho produzido por:
→ Ada Ravana Costa Moura, Marjorie Cseko Nolasco, Hermelino Danilo Santana de Carvalho, Gláucia Trinchão, equipe da Universidade Estadual de Feira de Santana, por ocasião da realização do II Congresso sobre Planejamento e Gestão das Zonas Costeiras dos Paises de Expressão Portuguesa, IX Congresso da Associação Brasileira de Estudos do Quaternário, II Congresso do Quaternário dos Países de Línguas Ibéricas.
Descrição sumária dos sítios estudados
NOME DO SÍTIO | MORFOLOGIA | SUBSTRATO | TÉCNICA DE EXECUÇÃO | TEMÁTICA 1-Geográfica 2-Naturalista |
COR PRETO, VERMELHO, MARROM, AMARELO, LARANJA |
ÁREA DO PAINEL |
PEDRA DO TAPUIO | Cannyon | Quartzito | Pintura a tinta | 1 e 2 | P, V, A | 315,00 |
RODEADOR |
Loca |
Conglomerado | Pintura a tinta | 1 e 2 | V, A | 9,00 |
LAPA DE ABEL | Lapa | Conglomerado | Pintura a tinta | 1 | V, A, L | * |
CACH. DE BRUNDUÉS 1 | Bloco solto | Quartzito | Pintura a tinta | 1 e 2 | V | * |
CACH. DE BRUNDUÉS 2 | Bloco solto | Quartzito | Pintura a tinta | 1 e 2 | V, P | * |
PEDRA BONITA | Bloco solto / loca | Conglomerado | Pintura a tinta | 1 e 2 | V, A | 40,50 |
ÁGUA DA MENINA | Bloco solto | Conglomerado | Pintura a tinta | 1 e 2 | V, P | * |
CURRAL NOVO | Bloco solto | Quartzito | Pintura a tinta | 1 | V | * |
CANABRAVA | Bloco solto / paredão | Quartzito | Pintura a tinta | 1 e 2 | V, A, P | * |
JATOBÁ | Lajedo | Quartzito | Gravações incisas | 1 | * | |
LIMOEIRO | Cannyon | Quartzito | Pintura a tinta | 1 e 2 | V, P | 57,00 |
POÇO VERDE 1 | Bloco solto | Quartzito verde | Pintura a tinta | 1 e 2 | V, A, P | 19,00 |
POÇO VERDE 2 | Bloco solto | Quartzito verde | Grafite | 1 | V, P | 1,95 |
CANABRAVA DO RETIRO | Loca | Quartzito | Pintura a tinta | 1 e 2 | V, P | 30,00 |
BAIXA DO POTE | Loca | Quartzito | Pintura a tinta | 1 e 2 | V, P | 45,60 |
OLHO D’ÁGUA DO COQUEIRAL | Bloco solto | Quartzito | Pintura a tinta | 1 | V | * |
CURRAL NOVO DO MOURÃO | Loca | Quartzito | Pintura a tinta | 1 e 2 | V, P | 6,30 |
PEDRA FURADA 1 | Bloco solto | Quartzito | Pintura a tinta | 1 e 2 | V | 4,75 |
PEDRA FURADA 2 | Bloco solto | Quartzito | Pintura a tinta | 1 | V | 0,60 |
PEDRA FURADA 3 | Bloco solto | Quartzito | Pintura a tinta | 1 e 2 | V | 2,00 |
PEDRA FURADA 4 | Bloco solto | Quartzito | Pintura a tinta | 1 | V | 1,08 |
PEDRA FURADA 5 | Bloco solto | Quartzito | Pintura a tinta | 1 | V, A | 15,00 |
PEDRA FURADA 6 | Bloco solto | Quartzito | Pintura a tinta | 1 e 2 | V | * |
PEDRA FURADA 7 | Bloco solto | Quartzito | Pintura a tinta | 1 e 2 | V, A | 15,00 |
PEDRA FURADA 8 | Bloco solto | Quartzito | Pintura a tinta | 1 | A | * |
PEDRA FURADA 9 | Bloco solto | Quartzito | Pintura a tinta | 1 | V, A | * |
PEDRA FURADA 10 | Bloco solto | Quartzito | Pintura a tinta e grafite | 1 e 2 | V, A | 18,90 |
PEDRA FURADA 11 | Bloco solto | Quartzito | Pintura a tinta | 1 e 2 | V, A, M | 31,25 |
PEDRA FURADA 12 | Bloco solto | Quartzito | Pintura a tinta | 1 e 2 | V, A, M | 16,25 |
PEDRA FURADA 13 | Bloco solto | Quartzito | Pintura a tinta | 1 e 2 | V, A, M | * |
PEDRA FURADA 14 | Bloco solto | Quartzito | Pintura a tinta | 1 e 2 | V, A | 6,00 |
PEDRA FURADA 15 | Bloco solto | Quartzito | Pintura a tinta | 1 | V, A | * |
PEDRA FURADA 16 | Bloco solto | Quartzito | Pintura a tinta | 1 e 2 | V | * |
ITACANGA | Paredão | Quartzito | Pintura a tinta | 1 e 2 | V, A, P | 12,00 |